terça-feira, 20 de julho de 2010

Terremoto de magnitude 4.6 atinge a Região de Dili em Timor Leste






Um moderado terremoto (sismo) atingiu hoje 20/07/2010, a cidade de Dili em Timor-Leste.


Foi o terremoto mais forte que eu já presenciei em Timor-Leste.  Em outras oportunidades a força do sismo não havia sido tão grande, embora o tremor de outros dias tenha tido uma maior duração. Acredito que a razão para a força do tremor foi a proximidade do epicentro da cidade de Dili.

O movimento sísmico na capital timorense ocorreu às 18h49, hora local (06h49 em Brasília) com epicentro  registrado a 10km ao noroeste (WNH) de  Dili e profundidade de 10.2km, na localização 8,540 ° S, 125,494 °.



Segundo o Centro Norte-americano para Terremotos (USGS), o sismo atingiu a magnitude de 4.6 na Escala Richter. O sismógrafo do USGS registrou a hora exata do acontecimento, 06:49:28 no epicentro (10:49:28 UTC). O evento foi identificado pelo USGS  pelo código us2010yya2. 

O sismo durou entre 3 e 5 segundos e tive a sensação que a casa estava saindo do lugar. Lembrei imediatamente do tremor que ocorreu no Haiti em janeiro desse ano, onde milhares de pessoas morreram e  lembrei do terremoto que aconteceu ontem (19) em Papua, onde 2 pessoas morreram e foi emitido um alerta de tisunami. 

Aparentemente o tremor de hoje em Timor-Leste não trouxe vítimas e nem maiores danos aos edifício, mas minha primeira ação quando ouvi o bater dos pratos nas casas, foi ir para a rua. Lembrando que é hábito em Timor, quando acontece um terremoto bater em pratos. Segundo os timorenses mais velhos, esse hábito vem da crença local que Deus (Maromak) leva o planeta Terra em seus ombros, e quando Deus dorme, deixa a Terra cair. O bater dos pratos seria para "acordar Deus". Semana passada ouvi outra versão para a mesma lenda. Segundo esse novo relato, deve-se bater nos pratos para lembrar Maromak que ainda estamos aqui na Terra e que não queremos morrer. 


Timor-Leste está localizado próximo a região do Cinturão de Fogo do Pacífico, uma área com uma grande quantidade de abalos sísmicos. Este foi o quinto terremoto que eu senti desde julho de 2008. Um terremoto de magnitude 4.5 na escala Richter libera quantidade de energia equivalente a 5100 toneladas de TNT. 

Referências e crédito das imagens para: 
  • U.S. Geological Survey, National Earthquake Information Center - World Data Center for Seismology, Denver - http://neic.usgs.gov

domingo, 4 de julho de 2010

Malai! Malai!

Uma das primeiras palavras que aprendi na língua tétum foi "Malae" ou  "Malai",  no português falado em Timor Leste.

Sempre foi-me dito que "malai" sgnificava estrangeiro, um parente próximo da expressão "Gringo" que utilizamos com frequencia  no Brasil, quando nos referimos a um estrangeiro.

Fiquei muito curioso com a origem dessa palavra, já que segundo percebi, é uma das primeiras expressões que as crianças aprendem falar. Nós brincamos e dizemos que as crianças aprendem falar Malai antes de mamãe!

É muito comum um estrangeiro passar na rua e ouvir Malai bom dia, Malai para onde vai, Malai me dar um rebuçado (a nossa bala). Quando se trata de crianças, que sempre estão em grandes grupos, eu  sempre escuto, Malai, Malai, Malai... e elas só param de gritar quando eu olho e as cumprimento com um oi!!

Alguns colegas s acham que Malai é uma palavra pejorativa, que é uma forma dos timorenses dizerem que nós somos os estrangeiros. Eu sempre rebato e digo, como pode ser pejorativa uma palavra dita por uma criança, que às vezes nem sabe andar direito. Aí sempre escuto, ah foi o pai dela que ensinou.

Então resolvi "acabar" de vez com a discussão e procurei a origem dessa palavra.

Alguns timorenses me afirmaram que a palavra "Malai" tem origem na palavra  Malay, que pode designar a língua austranésia falada na Malaysia, Indonesia, Singapore, Brunei e Tailândia o Bahasa Melayu e suas variações, ou então os habitantes da Malaysia. A explicação para isso é que um dos primeiros estrangeiros a chegar na ilha de Timor Leste, foram os malasianos e por isso o uso do termo.

Já ouvi outra explicação para a palavra. Os primeiros estrangeiros que chegaram aqui em Timor Leste, traziam malas e os nativos nunca haviam visto malas e quando aprenderam o nome Mala, associaram Mala a Malai, ou seja aquele que carrega malas (estrangeiro).

Essas duas origens diferentes para a mesma palavra carecem de uma boa referência histórica, que eu não consegui encontrar.

Buscando em artigos científicos e em textos na internet encontrei as seguintes citações no site East Timor Studies de João Paulo Esperança:

 "A. Mendes Corrêa no seu "Timor Português" (1944) diz que "por malai entendem os indígenas de Timor os estranhos, os Malaios de outras ilhas, os Chinas, os negros de África, os Árabes, os Portugueses metropolitanos, os Holandeses, os Europeus em geral.  Os timorenses não se consideram Malaios, muito pelo contrário."

"Luís Thomaz num artigo de 1974, "Timor – Notas histórico-linguísticas", pág. 231, defende que: "Por sua vez o nome que os malaios dão a si mesmos – melayu – tornou-se em Timor, sob a forma malae sinónimo de "estrangeiro, pessoa de fora de Timor" - recordação do tempo em que os malaios eram os únicos estrangeiros que apareciam nas costas da ilha. Osório de Castro nota que em Maluco o termo melayu é usado com o mesmo sentido." Essa citação justifica a primeira origem da palavra que eu expus. 

Mas mesmo com essas duas citações, algumas pessoas acreditam que Malai e Melayu, tem significados e origens diferentes. 
Crianças timorenses
Foto do Blog da Missão Científica Botânica em Timor-Leste


Ainda com referência a pesquisa feita por João Paulo Esperança,   Aone van Engelenhoven e John Hajek dizem-nos No seu artigo "East Timor and the Southwest Moluccas: Language, Time and Connections" (2000), (pág. 121):


«A importante distinção entre os chamados `donos da terra' e `donos dos barcos' nas ilhas do Sudoeste das Molucas é não apenas crítica para as estruturas sociais na região, mas também um importante indicador histórico das relações com Timor no passado. Os ornusa ou clãs `donos da terra' eram os verdadeiros senhores da terra, que já viviam nas ilhas antes da chegada dos `donos dos barcos'. Há textos históricos que revelam que a chegada dos donos dos barcos foi despoletada pela destruição da sua `Ilha Mãe'. Esta destruição é tradicionalmente explicada como o castigo supremo por uma luta fratricida que era proibida. Os nomes usados nestas histórias fornecem pistas importantes sobre ligações com Timor. Qualquer coisa que inclua malai como elemento reverte para Timor – o que se vê por exemplo em Sairmalai, o nome timorense do herói letinense Slerleti. ((32 A palavra malai, apesar das aparências, não tem nada a ver com Malay (ing.) [ou malaio (port.)], uma malformação europeia de melayu.)) O resultado é que todos os heróis, e consequentemente também os clãs que deles descendem, são considerados como sendo de origem timorense. O segmento Malai (lit. `Timor') em muitos apelidos de família é altamente reverenciado devido à sua referência óbvia. Os exemplos incluem os apelidos Pelmalai `aliado timorense' na ilha de Nila, e Maranmalai na ilha de Léti.

Reuniões recentes entre famílias keienses e do Sudoeste das Molucas na Holanda revelaram como ambos os lados tinham em comum narrativas semelhantes sobre a destruição de uma terra ou continente no ocidente (centrado na área de Timor-Luang). As histórias dos clãs falam sobre barcos que navegavam para o oriente a partir de Lun-Let, o nome keiense para o continente que era Luang. Os mitos letinenses contam-nos sobre pessoas que navegavam para e de Timor, e sobre o estabelecimento de povoações de `donos de barcos' na costa de Malakitna-Malaliawna, o irmão mais novo (com malai `Timor' bastante evidente).

Ancião timorense
Foto de Celina Silva

As ligações entre comunidades em Timor-Leste e no Sudoeste das Molucas mantiveram-se mais directamente até tempos relativamente recentes. Alianças formais tradicionais, por exemplo, foram mantidas entre os governantes tradicionais de Kísar e Baucau até perto de meados deste século, mas acabaram por ser quebradas pelos portugueses. Também é verdade que laços de comércio tradicional foram mantidos até mais recentemente ainda, particularmente com comerciantes que falavam tétum de Leti e de Luang que se sabia visitarem Timor-Leste.» (A tradução do inglês é minha.)

Lendas na língua de Léti que mencionam esta ligação a Timor (Malai), e a sua análise antropológica e linguística, podem ser consultadas no livro de Aone van Engelenhoven "Leti, a language of Southwest Maluku" (2004), por exemplo nas págs 328, 329, 398.

Os dados destes autores relativos à antroponímia parecem ocorrer também entre os fatalucos da Ponta Leste de Timor, conheço uma moça de lá, de uma família "ratu" (da nobreza), cujo nome tradicional (o do knua, não o dos documentos nem o "nome de estima" de casa) é Jar Malai. Na segunda parte do "Léxico Fataluco-Português" do Padre Alfonso Nacher, publicado na revista do Instituto Nacional de Linguística (2004), na pág. 122 pode ver-se que nesta língua a palavra "malai" pode significar "estrangeiro" mas também "liurai" (rei).


Referências:
http://groups.yahoo.com/group/east-timor-studies/message/3724

"Advinha quem veio para o almoço?"

Após um longo período sem postar, devido exclusivamente  a falta de tempo,  hoje (04/07/2010) estou reativando meu blog e nada melhor do que falar de um dos animais símbolos do país o Tokê (Gecko verticillatus).

Tokê
Foto: (Tokay Gecko Morphs 2008)

Segundo o dicionário de Luís Costa, Maio 2000, citado por "sitiodosolnascente.blogspot.com",o Tokê, Tokay Gecko ou ainda Toko é “um lagarto cuja voz emita esta palavra”. A espécie consegue emitir esse som característico, devido a uma modificação em seu aparelho nasal (carece de referência). 

Segundo os habitantes mais antigos da Ilha de Timor Leste, o Tokê repete o som "To Kê" até um número de vezes que indica que horas são. Certo é que eu contei e esse número não passou de 8 vezes.

O animal pode chegar a 30 cm de comprimento, tem hábitos noturnos e é insetívoro. Habita toda a Ilha de Timor Leste (carece de referência), e ainda é encontrado no nordeste da Índia e Bangladesh, Birmânia, Tailândia, sul da China, Malásia, arquipélago da Malásia, Indonésia, Filipinas, arquipélago de Sulu e Austrália (Seufer Hermann 1995). Esta espécie foi também introduzida a Florida, Hawaii, Martinica e Belize e é considerada uma espécie invasora. 

Na Tailândia são considerados precursores de sorte, fortuna e fertilidade e e lá e em várias partes do mundo, esses animais são criados como animais de estimaçãoÉ ainda utilizado na medicina chinesa como remédio. O corpo após a evisceração é esticado e preso e colocado para secar, então todo o corpo do animal é utilizado na tradicional medicina chinesa, mas a cauda é utilizada particularmente no tratamento da tuberculose (Zhao & Adler, 1993).

Uso do Tokê na tradicional medicina chinesa
Foto: (Museu de Biodiversidade Raffles)



A Timor Telecom (TT), única empresa de telefonia em Timor-Leste, em homenagem ao lagarto, resolveu denominar seus cartões de recarga de celulares pré-pagos de TOKE, numa alusão ao animal símbolo de Timor Leste.

Tokê Granito Azul e Laranja
Foto: (Ingo Kober)

Acontece que hoje na hora do almoço, um desses animais resolveu visitar minha cozinha. O exemplar tinha por volta de 25cm e era muito agressivo.



Este veio para o Almoço

Ao tentar expulsá-lo com uma vassoura, ele atacou e emitiu o seu som característico. Após várias tentativas e muitos outros ataques, finalmente consegui colocá-lo em uma caixa de papelão e transportá-lo para fora de casa.

Desceu da parede e ainda fez pose para a foto!

Passada minha primeira aventura do dia, foi a hora de preparar o almoço, e hoje foi especial, preparei Strogonoff, não de Tokê, mas de Frango! 

Um abraço a todos e até a próxima.

Referências:
sitiodosolnascente.blogspot.com
www.gekkonids.info
http://snakesnadders.tripod.com/id15.html