domingo, 3 de agosto de 2008

Sobre as religiões, economia e a população de Timor-Leste

TIMOR-LESTE

Timor Lorosa'e


GEOGRAFIA

Área: 14.874 km2. A metade oriental do Timor e o enclave Ocussi-Ambenu no Timor Ocidental Indonésio e Ilha Atauro.


População


Cresc. Anual Densidade
2000 884.541 +1,68% 59 hab./Km²
2010 1.015.062 +1,35% 68 hab./Km²
2025 1.185.000 +0,79 80 hab./Km²


No início do ano 2001 ainda existia mais de 100.000 refu­giados do Timor leste; a maioria mantida nos acampamen­tos do Timor Oriental e em outros locais.


Capital: Dili, uma estimativa de 40.000 habitantes em 2001; a maior parte da cidade foi destruída em 1999.


POVOS

Percentuais aproximados de 1998 entre parênteses.


Timorenses: 96,1% [78%].

Indo-Malaio: 79%; 9 povos. Os maiores: Tetun (Tetum), 370.000; Mamba, 96.000; Kemak, 60.000; Ambenu, 60.000; Galoli, 60.000; Tukudeste 50.000.

Papuas: 17,1%; 6 povos. Os maiores: Makasae, 70.000; Bunak, 50.000; Dagoda, (Fatukuiu), 30.000.

Indonésios: 2% [20%]. A maioria fugiu com o fim da ocupação indonésia.

Outros: 1,9%. Chineses 4.000; forças da ONU e ofici­ais.


Alfabetização: baixa. Línguas oficiais: Português (10% entende), o Tetun é compreendido por 50%, e a maioria entende o Indonésio. Total de línguas: 17 línguas com as Escrituras: 2BÍ, 1por, 1 t.e.a.


ECONOMIA

Ignorada pêlos portugueses, muito desenvolvido pelos militares indonésios, porém, mais como uma fonte de enriquecimento da elite, então destruído por vingança após a votação para a independência, A nova nação deve ser reconstruída do nada. Tem potencial agrícola, de madeira de sândalo, de minerais e, provavelmente, petróleo e gás. A maioria vive em profunda pobreza.


POLÍTICA

Governado por Portugal de 1511 a 1974, seguido por uma precipitada transferência aos mal preparados timorenses. Como resultado, seguiu-se uma guerra civil e os indonésios invadiram e dominaram o país; houve fome, falta de instalações médicas e aperto econômico. E possivelmente 200.000 pessoas morreram e o crescimento da população foi inibido. A ocupação dos indonésios fez com que a resistência timorense parecesse se transformarem um esforço inútil por causa da divulgação feita pêlos indonésios de que a integração do Timor Leste à Indonésia havia sido voluntária. As pressões internacionais levaram a um plebiscito e à independência em 1999. Fortemente armada, a milícia apoiada pelo exército saqueou e destruiu grande parte da infra-estrutura do país, os prédios e a economia antes que a ONU interviesse. Aproximadamente 75% da população se tornou refugiada. A cessão da administração da ONU para um governo timorense se deu em 2001, mas levará décadas para que esta nação arrasada venha a se sustentar por si mesma.


RELIGIÃO

O catolicismo era a religião do Estado e da elite até 1975. Ele se tornou a única estrutura social timorense organizada e viável depois de 1999.


Religiões

População % Adeptos Cresc. Anual
Cristã 89,16 788.657 +2,5%
Tradição Étnica 8,22 72.709 +4,7%
Muçulmana 2,10 18.575 -17,6%
Chinesa 0,30 2.654 -14,2%
Hindu 0,20 1.769 -6,2%
Bahai 0,02 177 -11,5%


Igrejas


Cong.

Membros

Filiados
Católica 55 442.800 752.700
Assembléias de Deus 60 12.000 18.000
IPTL - Igr. Reform. do T 50 10.000 17.000
Outras denominações 5 500 1.000
Total de cristãos [5] 170 465.265 788.700


Desafios

1 O nascimento de Timor como nação foi traumático. A destruição vingativa da vida e das propriedades, o seqüestro forçado de muitos timorenses pelos militares indonésios que estavam saindo do país e seus aliados timorenses deixaram um legado de ódio e trauma que levará décadas para sarar.


2 O futuro do Timor é incerto. A ONU tem uma dura tarefa de defender o país e estabelecer as estruturas básicas para a sobrevivência econômica e administrativa, mas o alto padrão de vida visível dos 7.000 funcionários civis e militares da ONU, e a falta de sensibilidade cultural criam ressentimentos.


3 A Igreja Católica cresceu rapidamente como símbolo da resistência nacional aos indonésios, mas o profundo ocultismo das religiões étnicas continua forte. Os Protestantes são vistos com suspeita por terem, originalmente, vindos da Indonésia.


4 As igrejas Protestantes conquistaram um espaço. As Assembléias de Deus começaram nos anos 60 por indonésios aloreses, e têm crescido com força na Ilha Atauro e em Dili. A IPTL (GKTT) foi iniciada por imigrantes indonésios e muitos timorenses se uniram, mas raramente com conversões verdadeiras. O nominalismo e a falta de entendimento do Evangelho caracterizam a maioria. Cerca da metade de seus membros fugiram para a Indonésia em 1999. A Christian Vision tem um plano de três anos de evangelismo e implantação de igrejas para todo o país em associação com a AoG.


6 Missões estrangeiras. Muitas ONGs têm entrado para dar ajuda em diferentes níveis. Ore por estratégias eficazes que aumentem o poder de eficiência das igrejas. A grande necessidade é de envolvimentos de longo prazo na vida e nas culturas dos povos, e de um discipulado eficiente e ministérios de formação. As missões mais significativas: Christian Vision (30), WEC (10), JOCUM (6) e Batistas (4).


Fonte: Intercessão Mundial - Quando nós oramos Deus trabalha - Edição Século XXI - Patrick Johnstone e Jason Mandryk

sábado, 2 de agosto de 2008

A língua Tétum em Timor-Leste

A língua tétum é falada pelo povo de Timor desde tempos remotos. Nos últimos anos ela tem sido motivo de muito debate no campo lingüístico devido ao fato de ter sido adotada como língua do povo timorense ou maubere. Essa língua não sofreu grandes transformações morfológicas e fonéticas desde a época da colonização portuguesa, a despeito de sua pobreza em estruturas gramaticais que, a despeito de ter sido mencionada pela antropóloga Margareth Mead como uma das línguas mais faladas da Austronésia, nunca foi investigada a fundo.

Atualmente, cerca de 80% dos timorenses falam a língua tétum, como conseqüência dos vários dialetos existentes na ilha de Timor, embora ela ainda não tenha sido uniformizada. São falados vários tipos de tétum, como o tétum praça, o tétum vulgar e o tétum terik, mas nenhum deles foi investigado lingüisticamente. O tétum praça foi bastante usado pelos missionários portugueses como meio de divulgação da religião católica e de evangelização.

A língua tétum

Tétum é o nome da língua popular falada pela maioria do povo de Timor Leste, ou seja, cerca de 1.100.000 habitantes. Como sabemos, Timor Leste compreende a metade leste de uma ilha, cuja metade oeste pertence à Indonésia. Mais especificamente, essa língua predomina na parte central e setentrional da ilha de Timor, sendo usada como língua franca no dia-a-dia, em troca de mercadorias ou como instrumento de comunicação entre diferentes grupos étnicos.

Há cerca de 35 dialetos em Timor Leste, falados por 35 grupos étnicos, cada um deles com características bem diferentes uns dos outros. Timor Leste, além de ser pluricultural, é também plurilíngüe. Durante a colonização portuguesa, que perdurou por volta de 450 anos, o povo de Timor usava o tétum como meio de comunicação e comércio entre vizinhos e até mesmo como meio de expressão de pensamentos de cultura.

Durante a ocupação indonésia (1975-1999), a língua tétum continuou dominando como meio de comunicação, mesmo sob a repressão da Indonésia. Hoje, a língua mais falada na ilha é a língua indonésia ou bahasa indonesia, que foi introduzida durante o período da ocupação (25 anos), sendo falada por cerca de 90% da população. Mesmo assim, os dialetos locais continuam sendo utilizados como instrumento de comunicação, principalmente por expressarem experiências vivenciadas pelo coletivo ou grupos étnicos da ilha.

Além do tétum, que é bastante flexível, existem também outras famílias lingüísticas como o mambai, kemak, tokodede, makasai, naueti, galoli, bunak e outras. Atualmente, após a independência que se deu em 1999, a língua tétum vem sendo uma das mais cogitadas para introdução como instrumento de comunicação e educação do povo de Timor Leste, ao lado da língua portuguesa como meio de comunicação burocrática.

Língua geral ou vulgar

Como em todos os casos de colonização européia, os colonizadores não se preocuparam em registrar textos desta língua. Pelo contrário, o que se tem são alguns alvarás, estimulando o uso da língua portuguesa em detrimento da língua geral, apesar de o tétum ser a língua franca timorense e meio de intercomunicação entre colonizadores e indígenas. A língua tétum se tornou mais popular ainda devido à força centrípeta dos missionários na evangelização da ilha e, sobretudo, às orações diárias e a celebração da santa missa, como está acontecendo em Timor Leste. No momento atual, dos poucos padres que ainda restam em Timor Leste, uns celebram a santa missa em português, outros em bahasa indonesia e outros em tétum. Exemplo:

Português: - Pai nosso que estais no céu.....

Bahasa indonesia: - Bapak kami yang ada di surga...

Tétum: - Ami nia aman iha lalehan....

Como vemos no exemplo acima, as três línguas não têm nenhuma correlação entre si, mas são complementares no uso, tendo a língua portuguesa como complemento. Exemplo:

Português: - Abre a janela

Bahasa indonesia: - Buka jendela

Tétum: - Loke janela

A língua tétum é uma língua franca que não tem estruturas gramaticais com morfologia ou fonologia complexas como outras línguas. Pronuncia-se como se escreve. Exemplo:

Português: Eu vou para sua casa logo à noite

Tétum: Hau ba ita nia uma orsida kalan

Tampouco tem flexão nos verbos. Usa-se a raiz da palavra, acrescentando-se apenas partículas como ohin ‘hoje’, horiseik ‘ontem’, aban ‘amanhã’, abanbainrua ‘futuro, qualquer dia (incerto)’. Exemplo:

Presente: Hau ba ohin ba Brasil ‘eu vou hoje para o Brasil’;

Hau ba dadauk Brasil ‘estou indo para o Brasil’;

Passado: Hau ba Brasil horiseik ‘eu fui ontem ao Brasil’;

Hau ba tia ona Brasil fulan kotuk ‘eu fui ao Brasil no mês passado’

(passado seguido do tempo usado: semana, mês, ano, etc.)

Futuro: Hau sei ba Brasil ‘Eu irei ao Brasil’

Mesmo assim, esse procedimento varia de região para região, devido à influência dos dialetos falados no local (área fronteiriça com a Indonésia, Soibada e outras de que no momento não me lembro exatamente). Porém, estou certo de que há diferenças. A conjugação de que estou falando é a do tétum falado ou tétum praça.

Nem todos os timorenses falam o tétum como ele é, mas sim como o ouvem no convívio do dia-a-dia. Antes da saída de Portugal da ilha em 1975, apenas 40% falavam o tétum, 50% falavam os vários dialetos existentes em Timor Leste e 10% tinham conhecimento da língua portuguesa.

Durante a dominação da Indonésia na ilha, a língua portuguesa e o tétum passaram a ser proibidos em todos os domínios da vida social. Atualmente, cerca de 80% falam o tétum, mas um tétum complementado, quer dizer, um tétum pobre de vocábulos, que busca o auxílio de palavras de origem portuguesa ou indonésia.

Ainda falta muito a fazer em termos de investigação lingüística do tétum. E muito mais ainda deverá ser feito se ele vier a ser a língua materna de todo o povo timorense no futuro. Cabe a todos os timorenses o dever de trabalhar arduamente nessa investigação, para que o tétum venha a ser uma língua rica e bem estruturada, o que certamente promoverá uma eqüidade entre os timorenses em termos de sabedoria, desenvolvimento e identidade humana, como todos os outros irmãos espalhados pelo mundo afora.

Textos escritos em tétum

É muito difícil encontrar textos escritos em tétum porque durante a época da colonização a única língua que prevalecia era a portuguesa, enquanto que as línguas indígenas se sucumbiam. O pouco que existe, escrito pelos missionários, era de interesse da história da divulgação da religião cristã. O fato é que hoje podemos encontrar alguns textos escritos na língua tétum, graças ao esforço desses missionários que atuaram no âmbito da evangelização cristã em Timor bem como ao de poucos timorenses que trabalharam em busca de uma identidade nacional de sua terra, tentando escrever sobre o valor de sua língua com o pouco que sabem. Atualmente, o tétum vem sendo considerado como uma das primeiras preocupações para o desenvolvimento da educação de todo o povo timorense.

Tipos de tétum

Há três tipos de tétum falados em Timor Leste:

Tétum praça: É o tétum falado especialmente na cidades e nas áreas de maior concentração de pessoas como mercados, bazares, lojas e demais pontos de encontro. Esse tipo de tétum é bastante vulgar, com inúmeras improvisações de palavras portuguesas devido ao pouco desenvolvimento do próprio tétum. Exemplo: hau kole maka hau tenki deskansa ‘como estou cansado tenho que descansar’.

Tétum vulgar: É o tétum falado pelos timorenses no interior da ilha, em regiões em que a língua portuguesa tem pouca influência. Nessa variedade, utilizam-se muitas palavras tomadas de empréstimo dos dialetos.

Tétum terik: É um tétum fino (puro) e falado sem influência da língua portuguesa ou de dialetos. Esse tipo de tétum é falado por uma minoria do povo timorense, na parte central de Timor Leste, chamada Soibada e Laklubar, além da região fronteiriça com a Indonésia, chamada Atambua. Esse tétum é mais bem estruturado e rico em vocábulos próprios. Exemplo: lakauk ‘saber’, hamerak ‘turvar’. No tétum praça, usa-se para esses conceitos “hatene” (ou “conhecimento”) e “halo merak”, respectivamente.

Um outro exemplo é a palavra “cansado” do português, que no tétum praça é “kole” mas no tétum terik é “hamsaha”.

Por
Leonardo dos Reis, Embaixada da Indonésia (Brasília).